A meu ver, um dos grandes desafios da igreja contemporânea está em saber utilizar a arte para um fim que vá além do entretenimento. Gregory Frizzell, em seu livro “Retorno à Santidade” (2000, p.10-11), afirma que “...na igreja cheia de programas (entretenimento), a purificação espiritual profunda é ou ignorada totalmente ou comentada rapidamente de forma superficial. Como resultado disso, o povo de Deus não está consciente, em sua grande maioria, dos refinados pecados inconfessos que extinguem o poder de Cristo em suas vidas”. É lamentável que inúmeras igrejas estejam investindo seu tempo, esforço e recursos financeiros em templos confortáveis, equipamentos de som, iluminação e multimídia de última linha, na contratação de ministros de música e pastores de arte “tops”, apenas com o intuito de proporcionar aos espectadores de culto um espetáculo de nível profissional, digno de horário nobre da Rede Globo.
Mas se as manifestações artísticas não apontarem para a cruz, então para quê? Se a arte dentro da igreja não nos desafiar a extrapolar as quatro paredes sagradas dos templos, para que serve tudo isso? Se os que compõem os grupos de arte não assumirem seus papéis de ministros, anunciando o Reino de Deus, enfatizando a necessidade de arrependimento e mudança de vida, a urgência da evangelização e a necessidade de um relacionamento sincero e verdadeiro com Deus e com os demais crentes, toda manifestação artística não passa de entretenimento. E convenhamos: optar pelo entretenimento “gospel” enquanto o mundo clama por salvação e um “sem número” de igrejas caminha para a beira da decadência espiritual, é no mínimo uma escolha de mau gosto, dado o alto preço que Cristo pagou para que pudéssemos viver um evangelho pleno. Desta forma, a “obra de Cristo” acaba por afastar a igreja do próprio Cristo, desviando a atenção do povo do que realmente importa: almas, vidas, vida em santidade, crescimento espiritual, trabalho, negação, sofrimento pelo evangelho e perseverança na fé.
Esta
coreografia me fez pensar. A interpretação de todos eles, unida à letra da
canção, me levou a refletir sobre o meu papel como crente em Jesus Cristo. A própria letra da música, que eu conhecia há algum tempo mas ainda não havia compreendido sobre a que se referia, desafia a Igreja de Cristo a se lançar além da religiosidade. Não
fiquei apenas impressionado com a beleza da apresentação, mas fui impactado
pela mensagem transmitida. Não somente eu, mas muitos dos que ali estavam. É
claro que Deus fala de várias maneiras, e muitas vezes somos nós que não damos
a devida atenção. E também isso não significa que eu seja referência para a
manifestação divina, como se eu fosse um “termômetro espiritual”, do tipo: “se
eu fui tocado, é porque Deus estava no negócio”. Nada disso, sei bem das minhas
limitações diante de Deus, e graças a Ele pela sua misericórdia. Mas a meu ver
este grupo de coreografia cumpriu o seu papel, indo além do entretenimento e da
contemplação, anunciando a necessidade de mudança de atitude por parte daqueles
que conhecem a verdade, e que por vezes a guardam dentro dos seus templos confortáveis (a
saber, nós mesmos).
Em Cristo,
Leonardo de Souza
Em Cristo,
Leonardo de Souza